Os judeus do primeiro século esperavam por um libertador prometido pelas Escrituras.
Ele seria um descendente de Davi, que restauraria a glória de Israel.
As profecias messiânicas alimentavam essa esperança:"O cetro não se arredará de Judá, nem o legislador dentre seus pés, até que venha Aquele a quem pertence o domínio." (Gênesis 49:10)
Mas quem seria esse Messias?
As expectativas variavam:
- Alguns esperavam por um Messias rei e guerreiro, como Rei Davi, seu ancestral;
- Outros aguardavam um profeta poderoso, como Moisés;
- Os essênios esperavam dois messias – um sacerdotal e outro militar.
- Os zelotes acreditavam que o Messias traria libertação através da guerra.
Essa diversidade de visões levou ao surgimento de vários líderes messiânicos, cada um com sua própria interpretação da profecia.
Falsos Messias que Fracassaram
Durante e após a vida de Jesus, muitos indivíduos se levantaram, alegando ser o Messias ou liderando movimentos de cunho messiânico.
Contudo, todos tiveram finais trágicos.
Eis alguns dos mais conhecidos:
1. Judas, o Galileu (c. 6 d.C.)
Foi líder de uma revolta contra os romanos na época do censo de Quirino (cf. Atos 5:37).Seu fracasso é um exemplo de como revoltas messiânicas não levavam a nada duradouro.
Fontes: Flávio Josefo (Antiguidades Judaicas 18.1, §6; 20.5 §2; Guerras judaicas 2.8, §1) e Atos 5,37.
2. Simão Bar Kochba (132-135 d.C.)
Líder da Revolta de Bar Kochba contra Roma. Foi proclamado Messias pelo famoso rabino Aquiba.Fonte: Dio Cássio (História Romana 69.12-14)
3. Teudas (c. 44 d.C.)
Apareceu na Judéia afirmando ser enviado por Deus para libertar Israel. Reuniu seguidores e tentou refazer a travessia do Mar Vermelho, esperando um milagre.
O procurador romano Fado enviou tropas e o matou, e seu movimento desapareceu completamente.
Fonte: Flávio Josefo (Antiguidades Judaicas 20.97-99)
4. O Egípcio (c. 50 d.C.)
Líder messiânico. Reuniu milhares de seguidores no Monte das Oliveiras, prometendo a queda de Jerusalém.
O governador Félix enviou soldados, matou centenas de seus seguidores, e o próprio Egípcio fugiu, nunca mais sendo visto.
Fontes: Mencionado em Atos 21:38 e pelo historiador Flávio Josefo.
5. Menachem, o Zelote (c. 66 d.C.)
Durante a Grande Revolta Judaica contra Roma (66-70 d.C.), se declarou Messias e rei de Israel.
Foi morto por rivais judeus antes mesmo de enfrentar os romanos.
Fontes: Flávio Josefo (Guerras Judaicas, 2.17) e Talmude (menções indiretas).
6. Menandro (Final do Século I) – Um "Cristo" Esquecido
Menandro foi um gnóstico que se apresentou como um enviado divino, alegando que somente ele poderia conceder a salvação.
Seus seguidores acreditavam que ele nunca morreria, mas ele morreu e sua seita desapareceu logo depois.
Fonte: Irineu de Lyon (Contra as Heresias 1.23.5)
7. Montano (Final do Século II) – O “Profeta” que Prometeu o Fim do Mundo
Montano afirmou ser o paracleto (Espírito Santo encarnado) e prometeu que o fim do mundo aconteceria em breve.
Seus seguidores se prepararam para o Juízo Final, mas quando nada aconteceu, o movimento entrou em declínio.
Fontes: Eusébio de Cesareia (História Eclesiástica 5.14-19); Epifânio de Salamina (Panarion, 48),Jerôninimo (De Viris Illustribus, 40), e Tertuliano (Diversos escritos).
Por que Jesus Foi Diferente?
Ele não foi um líder militar. Todos os outros messias tentaram estabelecer um reino terreno. Jesus rejeitou essa ideia.
Ele não foi derrotado. Embora tenha sido crucificado, sua ressurreição foi proclamada por seus seguidores, e seu movimento cresceu em vez de desaparecer.
Ele fundou uma religião global. Nenhum outro pretendente messiânico criou um movimento que ultrapassasse as fronteiras do judaísmo e transformasse o mundo.
Seus seguidores não se dispersaram. Após a morte dos outros messias, seus discípulos desistiram ou foram mortos. Os seguidores de Jesus continuaram pregando e morreram por sua fé, convencidos de que ele era o verdadeiro Messias.
Conclusão
O investigador cético pode, a princípio, negar a veracidade dos relatos contidos nos quatro evangelhos. Mas não pode negar os seguinte fatos, tão bem comprovado pela história:
- Que um movimento em torno de Jesus surgiu no século I;
- Que este movimento não somente foi bem-sucedido, mas cresceu a ponto de influenciar toda a história mundial, em contraste com outros movimentos semelhantes que fracassaram.
- Que a probabilidade de isto ter ocorrido no contexto da época era ínfimo.
A história nos mostra que todos os outros supostos messias fracassaram completamente.
Isso sugere que a messianidade de Jesus não era como as outras e que sua ressurreição foi o evento que transformou seu aparente fracasso em triunfo
No próximo capítulo de nosso estudo, trataremos da questão do “Jesus histórico”.
Bibliografia
Fontes Antigas e Patrísticas
- EUSÉBIO DE CESAREIA.História eclesiástica. Tradução e notas de Joaquim Campelo Marques. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2014.
- FLÁVIO JOSEFO. História dos hebreus: Antiguidades judaicas. Tradução de Vicente Pedroso. São Paulo: Paulinas, 2001.
- FLÁVIO JOSEFO. A guerra dos judeus. Tradução de Vicente Pedroso. São Paulo: CPAD, 2010.
- IRINEU DE LYON. Contra as heresias. Trad. de Frederico Lourenço. Lisboa: Paulus, 2005.
- JUSTINO, o Mártir. Diálogo com Trifão, o judeu. São Paulo: Paulus, 2011.
- PAPIAS DE HIERÁPOLIS. Fragmentos preservados em: EUSÉBIO DE CESAREIA. História eclesiástica. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2014.
- TÁCITO. Anais. Tradução de Maria José Meireles. Lisboa: Edições 70, 2006.
Estudos Históricos e Acadêmicos
- BAUCKHAM, Richard. Jesus and the eyewitnesses: The Gospels as eyewitness testimony. 2. ed. Grand Rapids: Eerdmans, 2017.
- BURRIDGE, Richard A. What are the Gospels? A comparison with Greco-Roman biography. 2. ed. Grand Rapids: Eerdmans, 2004.
- CASEY, Maurice. Jesus of Nazareth: An independent historian’s account of his life and teaching. London: T&T Clark, 2010.
- CROSSAN, John Dominic. The historical Jesus: The life of a Mediterranean Jewish peasant. San Francisco: HarperOne, 1993.
- EHRMAN, Bart D. How Jesus became God: The exaltation of a Jewish preacher from Galilee. New York: HarperOne, 2014.
- HENGEL, Martin. The four Gospels and the one Gospel of Jesus Christ: An investigation of the collection and origin of the canonical Gospels. Harrisburg: Trinity Press International, 2000.
- KEENER, Craig S. The historical Jesus of the Gospels. Grand Rapids: Eerdmans, 2009.
- MEIER, John P. Um judeu marginal: Repensando o Jesus histórico. Vol. 1–5. São Paulo: Imago Dei, 2021.
- SANDERS, E. P. A figura histórica de Jesus. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
- WRIGHT, N. T. Jesus and the victory of God. London: SPCK; Minneapolis: Fortress Press, 1996.
Estudos Apologéticos e Teológicos
- BENTO XVI (Joseph Ratzinger). Jesus de Nazaré. Vols. 1–3. São Paulo: Planeta,2007–2012.
- CRAIG, William Lane. The Son rises: The historical evidence for the resurrection of Jesus. Eugene: Wipf and Stock, 2000.
- HABERMAS, Gary; LICONA, Michael R. The case for the resurrection of Jesus. Grand Rapids: Kregel, 2004.
- PITRE, Brant. The case for Jesus: The biblical and historical evidence for Christ. New York: Image Books, 2016.
- STROBEL, Lee. Em defesa de Cristo: Uma investigaçãopessoal da evidência da morte e ressurreição de Jesus. São Paulo: Vida, 2000.