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O Contexto Histórico de Jesus

Ilustração de Jerusalém nos tempos de Jesus
Jerusalém nos tempos de Jesus

Era um tempo de domínio estrangeiro e fervor religioso. A Judeia, outrora uma nação independente, agora estava sob o jugo do poderoso Império Romano, o maior de toda a antiguidade. Podia-se ver, pelas ruas de Jerusalém, soldados romanos com olhos atentos a qualquer sinal de rebelião. A tensão entre os judeus e seus dominadores era nítida, e muitos esperavam um libertador, um Messias que restauraria a glória de Israel.

Neste cenário de esperança e desespero, nascia Jesus de Nazaré.

1. A Palestina sob o Domínio Romano

No ano 63 antes do nascimento de Jesus, a Judeia era conquistada pelo general romano Pompeu Magno. A região foi, então, incorporada a Roma como um reino vassalo. 

Algum tempo depois, em 37 a.C, Herodes, O Grande, era nomeado rei pelos romanos, governando com mão de ferro e mantendo uma administração leal a Roma. Herodes governou até sua morte, quando a Judeia foi dividida entre seus filhos. Em 6 d.C, o território se tornou uma província romana governada diretamente por um procurador. Pôncio Pilatos foi o governador na época da crucificação de Jesus. 

No tempo de Jesus, a Terra Santa estava dividida em diferentes territórios: a Judeia ao sul, a Galileia ao norte e a Samaria no centro. A Judeia, onde ficava Jerusalém e o imponente Templo de Herodes, era governada diretamente por Roma através de Pilatos. Já a Galileia era governada por Herodes Antipas, filho de Herodes, o Grande. Seu poder era de um “tetrarca”, um governante, subordinado a Roma e sem plena autonomia.

Os romanos impunham pesados impostos, e o povo sofria com a miséria e a exploração. Havia revoltas constantes: grupos como os zelotes realizavam ataques contra os romanos, esperando libertar Israel pelo uso da força. Era um tempo perigoso para quem desafiasse a autoridade, especialmente para aqueles que, como Jesus, atraiam multidões e falavam de um "reino".

O fato de Jesus atrair multidões despertava suspeita tanto entre os judeus quanto entre os romanos. Sua mensagem sobre o "Reino de Deus" era vista como subversiva pelos líderes da época.

A tensão política explica por que Roma se preocupou com a acusação de que Jesus se autoproclamava Rei.

2. A Expectativa Messiânica e o sonho de um Libertador

Desde a dominação romana, a expectativa de um Messias guerreiro crescia entre os judeus. Muitos se lembravam das antigas profecias, que permeavam as Escrituras judaicas:

"Ele governará como rei e será sábio, e em seus dias Judá será salvo, e Israel habitará seguro." (Jeremias 23:5-6)

O conceito de Messias era associado à libertação política. O povo esperava um descendente de Davi que restauraria o Reino de Israel, derrotaria os inimigos e governaria com justiça. Mas Jesus veio com uma proposta diferente: um Messias sofredor, que salvaria através do sacrifício, e não da espada.

Isso gerou grande confusão: como um Messias poderia ser rejeitado, sofrer e morrer?

Os fariseus e saduceus não aceitavam um Messias que não restaurasse o poder político de Israel. A ideia de um Messias crucificado era impensável para os judeus.

A rejeição de Jesus pelos líderes religiosos foi, em parte, porque Ele não correspondia às expectativas da época com relação ao Messias.

3. O Sinédrio e os Líderes Religiosos

O Sinédrio era o tribunal supremo e conselho religioso dos judeus, com autoridade para questões religiosas, legais e políticas. Era composto por 71 membros, incluindo fariseus e saduceus. O Sinédrio funcionava sob supervisão romana e tinha poderes limitados: não podiam, por exemplo, executar ninguém sem aprovação romana.

Os fariseus, conhecidos pelo rigor na Lei de Moisés, viam Jesus como uma ameaça às suas tradições, pois Ele frequentemente confrontava sua hipocrisia. Os saduceus, que controlavam o Templo e cooperavam com os romanos, viam Jesus como um perigo político.

Quando Jesus entrou triunfalmente em Jerusalém e purificou o Templo, expulsando os cambistas, a hostilidade contra Ele se intensificou. Os sumos sacerdotes tramaram Sua prisão, mas precisavam de um pretexto que convencesse os romanos a condená-Lo. 

Não podiam executar Jesus por blasfêmia, então O entregaram como um rebelde político a Pilatos. A liderança judaica supostamente via Jesus como um perigo que poderia atrair a ira romana contra o povo.

4. O Julgamento Romano e a Crucificação

Pôncio Pilatos, governador romano da Judéia, não se importava com questões religiosas judaicas, mas não podia ignorar acusações de traição contra Roma. Quando os sacerdotes apresentaram Jesus como alguém que se proclamava "Rei dos Judeus", Pilatos o interrogou pessoalmente.

"Tu és o rei dos judeus?" Jesus respondeu: 'Tu o dizes'." (Marcos 15:2)

Pilatos percebeu que Jesus não era um revolucionário, contudo, a pressão dos líderes judeus e da multidão exigindo Sua crucificação o fez ceder. Tentando lavar suas mãos da culpa, permitiu que Jesus fosse crucificado.

A crucificação era a pena mais brutal do Império Romano. Os condenados eram flagelados até quase a morte e, depois, carregavam a trave horizontal da cruz até o local da execução. Pregados pelos pulsos e pés, morriam lentamente, por asfixia e hemorragia interna. Tal método de execução era reservado para os não-cidadãos romanos, normalmente inimigos de Roma. Era um sinal de humilhação pública.

Jesus foi executado como inimigo do Estado, e não apenas por blasfêmia. Sua morte na cruz era um escândalo para os judeus. Deuteronômio 21:23 dizia que "maldito é aquele que é pendurado no madeiro", e os judeus aplicavam este princípio aos crucificados.

Os discípulos ficaram em choque, pois não esperavam um Messias crucificado.

5. O Sepultamento e a Guarda no Túmulo

Após a morte de Jesus, José de Arimateia pediu Seu corpo e o colocou em um túmulo novo, escavado na rocha, e pertencente a uma família rica. Como o sábado se aproximava, o sepultamento foi feito às pressas.

Os líderes judeus temiam que os discípulos roubassem o corpo, então pediram a Pilatos que colocasse guardas romanos no túmulo e selassem a entrada com uma grande pedra.

"Senhor, lembramo-nos de que aquele enganador disse: ‘Depois de três dias, ressuscitarei’. Portanto, ordena que o sepulcro seja guardado." (Mateus 27:63-64)

O túmulo selado e vigiado torna impossível que os discípulos tenham roubado o corpo, e o fato de os líderes religiosos temerem a ressurreição mostra que essa ideia já era conhecida antes do terceiro dia. Tais questões serão tratadas com a devida profundidade mais adiante em nosso trabalho.

6. O Impacto da Ressurreição e o Surgimento do Cristianismo

Três dias depois, o túmulo estava vazio. A explicação oficial dos líderes religiosos foi que os discípulos roubaram o corpo, mas essa teoria não se sustenta.

"Disseram aos soldados: ‘Dizei que os discípulos vieram de noite e roubaram o corpo enquanto dormíamos’." (Mateus 28:13)

O impacto da ressurreição foi tão poderoso que os discípulos, antes amedrontados, começaram a pregar publicamente em Jerusalém.

Se os discípulos tivessem inventado a ressurreição, não teriam dado a vida por uma mentira. 

O crescimento explosivo do cristianismo, mesmo sob perseguição, é inexplicável sem a ressurreição.

No próximo capítulo de nosso estudo, tratarmos sobre a figura de Jesus em comparação com outros proclamados "Messias" de Seu tempo.


Fontes Antigas e Judaicas

  • FLÁVIO JOSEFO. Antiguidades Judaicas. Tradução de Vicente Pedroso. São Paulo: Paulinas, 2001.
  • FLÁVIO JOSEFO. A Guerra dos Judeus contra os Romanos. Tradução de Vicente Pedroso. São Paulo: CPAD, 2010.
  • MISCHNA. Tratados diversos da tradição oral judaica. Traduções diversas.
  • PESHER HABACUC (1QpHab). In: Textos de Qumran. Edição e tradução de Geza Vermes. São Paulo: Loyola, 2005.


Fontes Clássicas Greco-romanas

  • PLÍNIO, o Jovem. Cartas. Livro X. Tradução de José Eduardo dos Santos. São Paulo: Hedra, 2012.
  • SÊNECA. Cartas a Lucílio. Tradução de Carlos Alberto Nunes. São Paulo: Nova Cultural, 2001.
  • SUETÔNIO. Vida dos Doze Césares. Tradução de Maria José Meireles. Lisboa: Edições 70, 2014.
  • TÁCITO. Anais. Tradução de Maria José Meireles. Lisboa: Edições 70, 2006.


Estudos Acadêmicos sobre o Contexto Histórico de Jesus

  • BAUCKHAM, Richard. Jesus and the Eyewitnesses: The Gospels as Eyewitness Testimony. 2. ed. Grand Rapids: Eerdmans, 2017.
  • BROWN, Raymond E. O nascimento do Messias: Comentário aos relatos da infância nos evangelhos de Mateus e Lucas. São Paulo: Paulinas, 2005.
  • DUNN, James D. G. Jesus Remembered. Grand Rapids: Eerdmans, 2003.
  • HORSLEY, Richard A. Jesus and the Spiral of Violence: Popular Jewish Resistance in Roman Palestine. San Francisco: Harper & Row, 1987.
  • MEIER, John P. Um judeu marginal: Repensando o Jesus histórico. Vol. 1. São Paulo: Imago Dei, 2021.
  • NÉRÉ, Jacques. O mundo mediterrâneo na época de Jesus. Petrópolis: Vozes, 2005.
  • SANDERS, E. P. O judaísmo: Prática e crença (63 a.C.–66 d.C.). São Paulo: Paulinas, 2011.
  • SANDERS, E. P. A figura histórica de Jesus. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
  • SCHÜRER, Emil. A History of the Jewish People in the Time of Jesus Christ. 5 vols. Peabody: Hendrickson, 1994 [orig. 1890].
  • WERMELINGER, Otto. Palestina no tempo de Jesus: História, instituições, costumes. São Paulo: Paulus, 1997.
  • WRIGHT, N. T. Jesus and the Victory of God. London: SPCK; Minneapolis: Fortress Press, 1996.


Fontes Teológicas

BENTO XVI (Joseph Ratzinger). Jesus de Nazaré. Vol. 1: Do Batismo à Transfiguração. São Paulo: Planeta, 2007.

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