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A Ressurreição de Cristo e o Chamado à Plenitude da Fé

A investigação que fizemos a respeito da Ressurreição de Cristo nos conduziu ao centro do cristianismo: a confissão de que Jesus Cristo, tendo sido crucificado sob Pôncio Pilatos, demonstrou Sua Divindade: verdadeiramente ressuscitou, e vive glorioso, como Senhor da história e juiz dos vivos e dos mortos. 

No entanto, essa confissão, para ser plena, exige mais do que mera admiração por um fato extraordinário; ela exige união com a realidade viva do Ressuscitado. 

E é aqui que a razão iluminada pela fé conduz a uma conclusão inescapável: o Cristo ressuscitado pode ser plenamente encontrado, reconhecido e recebido apenas na Igreja Católica.

Quadro de Giovanni Battista Gaulli, representando o encontro de Paulo com o Ressuscitado.

1. A Ressurreição não é só um fato; é um sinal da Graça Divina.

Cristo ressuscitou, sim. Mas não ressuscitou para ser lembrado em abstrações. Ele ressuscitou para ser encontrado, tocado, adorado. Sua Ressurreição não foi apenas uma vitória contra a morte, mas o início de uma nova criação, uma nova humanidade, cuja porta de entrada é o Batismo, cuja vida é alimentada pela Eucaristia e demais sacramentos, e cuja respiração é a graça santificante

Cristo ressuscitado fundou uma Igreja, não uma ideia; instituiu sacramentos, não slogans; escolheu apóstolos, não filósofos. E ao fazer isso, vinculou a Si uma realidade visível, histórica, apostólica e hierárquica: a Igreja.

São Paulo, que viu o Ressuscitado e foi enviado por Ele, jamais separou o Cristo glorioso da realidade da Igreja. Para ele, a Igreja é “o corpo de Cristo, a plenitude daquele que enche todas as coisas” (Ef 1,23). 

Cristo não é uma cabeça sem corpo. O Ressuscitado está unido indissoluvelmente à Igreja, e esta é inseparável d’Ele. Como ensina Santo Tomás de Aquino, “a Cabeça e os membros constituem uma só pessoa mística” (Summa Theologiae, III, q. 48, a. 2, ad 1). 

Ora, se o corpo de Cristo é a Igreja, fora dela não se pode comungar plenamente com o Cristo ressuscitado.

2. A continuidade apostólica da Igreja Católica

O Cristo que ressuscitou apareceu a testemunhas escolhidas (cf. At 10,41), e entre elas estabeleceu um colégio visível, com Pedro à frente, a quem disse: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18). 

Cristo não deixou um texto, mas um magistério vivo, sustentado pela sucessão apostólica, pelo Espírito Santo, pela celebração litúrgica. Como afirmava Santo Irineu de Lyon (séc. II), “onde está a Igreja, ali está o Espírito de Deus; e onde está o Espírito de Deus, ali está a Igreja, e toda graça” (Adversus Haereses, III, 24,1).

A única instituição sobre a Terra que reivindica esta sucessão ininterrupta desde Pedro até hoje é a Igreja Católica. Nenhuma seita ou denominação, por mais bem-intencionada, possui a totalidade da Tradição apostólica, a integridade dos sacramentos, a unidade visível e a autoridade que Cristo confiou ao colégio dos apóstolos. 

Ao longo dos séculos, a Igreja Católica conservou intacta a memória da Ressurreição, não como um mito, mas como um acontecimento celebrado e atualizado sacramentalmente, especialmente na Santa Missa, onde o mesmo Cristo ressuscitado se faz presente com Seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade.

3. A presença real de Cristo na Eucaristia

Nenhuma outra realidade torna mais clara a exclusividade do encontro com o Ressuscitado do que a presença real de Cristo na Eucaristia. No caminho de Emaús, os discípulos reconheceram Jesus ao partir do pão (Lc 24,35). 

Hoje, essa “fração do pão” permanece no sacrifício da Missa. Como ensinava São João Paulo II, “a Igreja vive da Eucaristia”, pois nela Cristo ressuscitado está presente de modo substancial. E só a Igreja Católica possui o sacerdócio válido e legítimo para consagrar esse pão e vinho, tornando-os o próprio Cristo.

Cristo não disse: “guardai minha memória com emoção”, mas: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19). Ao ordenar esse memorial sacramental, Ele instituiu o meio ordinário pelo qual sua presença ressuscitada nos alcança até o fim dos tempos. 

Fora da Igreja Católica, pode haver ecos da Ressurreição; mas a presença substancial do Ressuscitado no Santíssimo Sacramento só se dá onde há sucessão apostólica e sacerdócio válido, isto é, na Igreja Católica e nas Igrejas Ortodoxas — embora estas lamentavelmente estejam separadas da cátedra de Pedro.

4. Cristo continua a agir na história por meio de Sua Igreja

A Ressurreição de Cristo não é apenas uma vitória privada. É a inauguração de um Reino. E esse Reino tem uma embaixada visível no mundo: a Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica. É nela que o Ressuscitado batiza, absolve, confirma, consagra, governa e ensina. É nela que as nações são chamadas à obediência da fé. É nela que se perpetua o perdão dos pecados. É nela que se encontra a plenitude dos meios de salvação. Fora dela, pode haver elementos de verdade e santidade – mas não a plenitude da presença de Cristo Ressuscitado.

5. A porta da salvação

Dizer que o Cristo ressuscitado só pode ser encontrado plenamente na Igreja Católica não é triunfalismo, mas reconhecimento do plano salvífico de Deus. Cristo e a Igreja não são dois, mas um só Cristo total, como ensina Santo Agostinho. Negar a Igreja é, em última instância, negar o Corpo daquele que ressuscitou. Separar o Cristo da Igreja é cometer uma espécie de nestorianismo eclesiológico: separar a cabeça dos membros, o esposo da esposa, o Salvador de seu sacramento.

Isso não significa que todo aquele fora da Igreja visível está automaticamente perdido. A Igreja mesma ensina que aqueles que, sem culpa própria, ignoram a Igreja, mas buscam sinceramente a Deus e vivem a Lei Natural, podem ser salvos, pelo batismo de desejo que os integra á Igreja. Mas isso não anula a verdade fundamental: a Igreja Católica é o lugar ordinário da salvação. É nela que o Cristo ressuscitado se faz plenamente acessível, não como símbolo, mas como Senhor vivo, que age, fala e se entrega.

Conclusão

Cristo ressuscitou. Mas Ele não deixou sua presença dispersa em abstrações subjetivas ou em experiências emocionais individuais. Ele permanece visivelmente presente na história: no altar, no confessionário, na doutrina imutável, no Magistério infalível, nos santos, nos mártires e na sucessão apostólica. 

Tudo isso tem um nome: Igreja Católica. Negar isso é obscurecer a própria Ressurreição; aceitá-lo é entrar na plenitude da verdade, onde o Ressuscitado continua a abrir os olhos dos cegos e a inflamar os corações.

Quem quer encontrar o Cristo ressuscitado deve buscá-lo onde Ele mesmo prometeu estar até o fim dos tempos: “Eis que estarei convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28,20). E onde está esse “vós”? Na Igreja que Ele fundou, na pedra que Ele escolheu, no rebanho que Ele governa.

Só a Igreja Católica pode dizer com plena autoridade: Vídimus Dominum — Nós vimos o Senhor!. E ela continua a vê-Lo, a tocá-Lo, a comungá-Lo, a anunciá-Lo.

Fora dela, o Cristo ressuscitado talvez seja admirado; somente nela, Ele é adorado.

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